FEBRÔNIO ÍNDIO DO BRASIL
- gabinetedocrime
- 24 de ago. de 2020
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Febrônio Ferreira de Mattos mais conhecido como Febrônio Índio do Brasil, nome como se apresentava para policiais, jornalistas, autoridades judiciárias e psiquiatras forenses. Foi um assassino em série brasileiro.
Febrônio nasceu na cidade de São Miguel de Jequitinhonha, atual Jequitinhonha, estado de Minas Gerais. Era o segundo filho entre os 14 filhos do casal Theodoro Simões de Oliveira e Reginalda Ferreira de Mattos. Teve uma infância conturbada, seu pai era alcoólatra e, com muita frequência, agredia violentamente sua esposa e filhos. Várias vezes Febrônio presenciou os espancamentos de sua mãe.
Com 12 anos de idade, Febrônio fugiu de casa, na companhia de um caixeiro-viajante. Ficou vagando pelas localidades vizinhas à sua cidade natal, até que chegou a Diamantina, onde foi alfabetizado e ganhou a vida como copeiro. Mais tarde, passou a morar em Belo Horizonte, sobrevivendo graças ao trabalho de engraxate e de auxiliar de serviços domésticos. Aos 14 anos, foi para o Rio de Janeiro, então Capital Federal.
Febrônio começou a delinquir entre 1916 e 1929, teve dezenas de passagens pela polícia por fraude, chantagem, suborno, furto, roubo e vadiagem.
Em umas dessas passagens pela prisão, começou a ler a Bíblia, um dia ele disse que teve uma visão com uma mulher loira, e segundo a visão, ele deveria tatuar-se e tatuar meninos, com o símbolo D C V X V I, que significava Deus, Caridade, Virtude, Santidade, Vida, Ímã da vida. A tatuagem serviria como talismã para aqueles que a exibissem no corpo. Agindo conforme o que lhe fora ordenado na visão, Febrônio tatuou a frase Eis o Filho da Luz em seu tórax e, em toda a circunferência de seu tronco, as letras D C V X V I. Febrônio, então, começou a escrever o livro As revelações do Príncipe do Fogo, que foi publicado em 1926, o qual traz mensagens incompreensíveis.
Em 1922, após apoderar-se do diploma do Dr. Bruno Gabina, Febrônio abriu um consultório odontológico próprio no Centro do Rio de Janeiro, onde demonstrava comportamento sádico ao extrair, subsequentemente, vários dentes sadios daqueles que buscavam sua assistência. Devido à má reputação adquirida, transformou seu consultório em agência de empregos, com a qual enganou as pessoas que, à procura de trabalho, depositaram dinheiro como caução a Febrônio. Perseguido pela polícia, mudou-se para a Bahia em 1925, onde atuou como falso dentista mediante o nome de Dr. Febrônio Simões de Melo Índio do Brasil. De lá veio a instalar-se em Mimoso do Sul, ES, local em que atuava como falso médico, com o nome de Dr. Bruno Ferreira Gabina, onde não ficou muito tempo em virtude da morte de duas crianças para quem ele havia prescrito medicamentos. Depois, na cidade mineira de Rio Casca, apresentando-se como Dr. Uzeda Filho, continuou a atuar como falso médico, chegando a causar a morte de uma mulher em trabalho de parto.
Quando voltou ao Rio de Janeiro, Febrônio foi preso em 8 de outubro de 1926, flagrado em atitude suspeita no morro do Pão de Açúcar. Como apresentava ideias delirantes e mentia compulsivamente, foi internado no Hospital Nacional de Psicopatas, de onde saiu poucas semanas depois. Nessa internação foi examinado e diagnosticou que Febrônio era um doente mental.
Febrônio voltou a ser preso em 21 de fevereiro de 1927, no morro do Corcovado, enquanto dançava, completamente nu e com o corpo pintado de amarelo, na frente de uma criança aterrorizada que estava amarrada ao tronco de uma árvore.
Em abril de 1927, Febrônio foi internado no Hospício Nacional de Alienados, na Praia Vermelha. Ao receber alta, levou consigo outro interno que também estava de alta, o jovem Jacob Edelman, de 17 anos, a quem prometeu emprego em seu consultório odontológico. Tatuou a inscrição D C V X V I no tórax de Jacob, e depois o violentou sexualmente, logo, fez o mesmo com Octávio, não sem tatuá-lo antes. Depois de uns dias os dois rapazes foram soltos, muito aterrorizados, porém vivos.
Em 19 de setembro de 1927, Febrônio foi denunciado pelo Ministério Público pelo homicídio qualificado de Alamiro José Ribeiro e de João Ferreira e, dois dias depois, ele foi transferido da 4.ª Delegacia Auxiliar do Rio de Janeiro para a Casa de Detenção, onde recebeu o número 194. Vários casos de garotos que foram noticiados pela imprensa como vítimas de Febrônio ficaram excluídos do processo por falta de provas concretas.
Em 1928, Febrônio foi levado diante do júri presidido pelo juiz Dr. Ary de Azevedo. Sua defesa foi executada pelo advogado Dr. Letácio Jansen, que sustentou sua inimputabilidade penal em face de sua manifesta loucura. Foi, então, conseguido que Febrônio fosse examinado quanto à sua sanidade mental pelo preclaro psiquiatra forense Dr. Heitor Pereira Carrilho.
Febrônio, foi reconduzido ao Manicômio Judiciário, onde permaneceu até sua morte, em 27 de agosto de 1984, aos 89 anos de idade, como consequência de enfisema pulmonar. Seu corpo foi discretamente inumado em 5 de setembro de 1984, no Cemitério do Caju.
A vida e os crimes de Febrônio geraram repercussões na cultura e influenciaram vários artistas, virou tema de música, literatura e um documentário, o Príncipe do Fogo, de Silvio Da-Rin.
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